Muitos profissionais sentem dificuldades ao atender pacientes com fibromialgia. Nós, profissionais do Pilates, temos uma chance de aliviar a patologia em nossos pacientes.
Nesse artigo darei algumas dicas para o tratamento através do método Pilates e informações teóricas sobre essa patologia complexa.
A COPCORD (Community Oriented Program for Control of Rheumatic) classifica a fibromialgia como uma doença músculo-esquelética. Sua natureza é generalizada e difusa, com dores migratórias e aumento da sensibilidade a vários estímulos.
Podemos citar como fatores que causam desconforto num paciente fibromiálgico:
Estima-se que a doença afete 2-4% dos adultos, sendo que as mulheres são mais atingidas pela patologia.
O imaginado é que a sensibilidade à dor aumenta por causa de alterações nos neurotransmissores e no seu processamento.
Tanto o sistema nervoso periférico quanto centro sofrem alteração. Eles são os responsáveis por gerar hipersensibilidade a estímulos experimentada na fibromialgia.
O stress psicológico (preocupação, ansiedade) favorece este mecanismo, aumentando a tensão que se transmite aos músculos e a dor.
Quanto à dor, ela pode ser acompanhada por:
A dor agrava com o frio, com alterações do sono, e em períodos de maior stress, preocupações ou angústia.
Encontramos também outros sintomas, como:
Outras manifestações que podem estar associadas:
Para diagnosticar a fibromialgia utiliza-se da exclusão. Esse processo é caracterizado por falta de alterações nos exames físicos, laboratoriais e de imagem. Utiliza-se também a história clínica, onde o médico deve colocar em evidência entre 12 e 18 pontos dolorosos.
Um diagnóstico eficiente relaciona a dor aos outros sintomas da fibromialgia como alterações no sono, fadiga e instabilidade emocional.
Tome cuidado para não confundir fibromialgia com síndrome da fadiga crônica! Essa última não apresenta os pontos dolorosos e é muito mais aleatória.
Ao tratar a doença procuramos:
Queremos que nosso paciente se torne apto novamente a participar de suas atividades rotineiras, sociais e familiares.
A fibromialgia não deforma as articulações, não compromete órgãos internos, não necessita de intervenções cirúrgicas e não retira um dia de vida ao doente, mas afeta consideravelmente a qualidade de vida do indivíduo.
Em 1972, Smythe descreveu a dor generalizada e a sensibilidade na palpação em pontos específicos. 4 anos mais tarde, o termo fibromialgia foi introduzido para denominar a síndrome da doença.
A etiologia e a patogênese da fibromialgia ainda são desconhecidas. A Síndrome é multifatorial. Considera-se que os seguintes fatores contribuem para o desenvolvimento da síndrome:
As queixas não são características e altamente subjetivas. Isso torna substancialmente difícil diferenciar entre fibromialgia e síndrome de fadiga crônica das doenças psicossomáticas.
O tratamento da fibromialgia é complexo e de longo prazo. Os antidepressivos e psicoterapia são de vital importância. A fibromialgia tornou-se um grave problema social nos países bem desenvolvidos nos últimos anos.
Logo segue esta revisão da literatura que mostra um aumento significativo nos estudos de prevalência de Fibromialgia no mundo. Os novos critérios do American College of Rheumatology de 2010 ainda não foram amplamente utilizados e a metodologia COPCORD (Programa de Controle de Doenças Reumáticas) tem aumentado a qualidade dos estudos sobre a prevalência das doenças reumáticas em geral.
A literatura mostra valores de prevalência de Fibromialgia na população geral:
Portanto, é de extrema importância os esforços para diagnosticar adequadamente a fibromialgia. Esse é o fator preponderante e mais difícil para implementar um plano de tratamento adequado.
Para o diagnóstico o indivíduo deverá apresentar dor a pressão em pelo menos onze dos seguintes pontos de forma simétrica:
Uma vez diagnosticado, o paciente precisa de uma equipe multidisciplinar para melhorar sua qualidade de vida. Como citado acima, a fibromialgia é uma Síndrome Multifatorial e não tem cura.
Discutiremos adiante como devemos abordar, tratar e melhorar a qualidade de vida desse paciente. Com o tratamento ele pode progredir e se tornar um aluno de Pilates. Para tanto, fisioterapeutas e educadores físicos devem estar de mãos dadas para tal finalidade.
No que diz as dores musculoesqueléticas, pesquisas afirmam a melhora significativa do quadro com exercícios físicos. Mas qual seriam os melhores exercícios a serem prescritos?
Usei a palavra "fibromialgia" como critério de busca combinada com atividade física, exercício, fisioterapia e treinamento. Dos 2.531 resultados iniciais encontrados, 33 trabalhos foram selecionados para revisão.
Os estudos analisados concentram-se principalmente em atividades de dança, atividades aquáticas, fitness e alongamento. Após a aplicação do programa de intervenção, o nível de dor foi reduzido entre 10 e 44,2% dos pacientes.
O impacto da doença foi reduzido entre 5,3 e 17,9%, de forma a melhorar os sintomas desses pacientes. Em conclusão, um programa multidisciplinar (no qual a atividade física está incluída) pode ter efeitos positivos sobre a qualidade de vida das pessoas com fibromialgia.
Em outro estudo onde foi avaliado o treinamento de força, sugeriu que o treinamento de resistência moderada e de moderada a alta intensidade melhora em mulheres:
O estudo também sugeriu que oito semanas de exercícios aeróbicos foi superior ao treinamento de resistência de intensidade moderada para melhorar a dor em mulheres com fibromialgia.
Esses dois estudos citados nos induzem a acreditar que os exercícios de força de intensidade moderada devem vir acompanhados de atividade aeróbica. Isso vale para o Pilates, o Treinamento Funcional ou a musculação.
E logo, entendemos a complexidade do tratamento, visto que o portador da doença deve passar primeiro por um esclarecimento geral de seu quadro. Depois ele precisa estar disposto a realizar uma reeducação de seus hábitos de vida.
É um ponto fundamental do tratamento. O doente deve ser conscientizado quanto ao papel do estresse e preocupações diárias na sua patologia. Portanto, será necessário controlá-los e ter consciência de que a atividade física será fundamental nesse controle.
A atividade física baixa os níveis de ansiedade e aumenta a quantidade de neurotransmissores produzidos. Em outras palavras, o doente deve-se empenhar no seu próprio tratamento.
Caso seja necessário, fazer um acompanhamento psicoterápico também será de grande valia.
O doente deve estar ciente dos malefícios da imobilização a que se submete para não desencadear as dores. Alguns deles são:
A prática regular de exercício físico é essencial, uma vez que reduz a intensidade da dor e da fadiga. Esses são, inclusive, sintomas que os portadores de fibromialgia elegem como mais incapacitantes.
Os exercícios também contribuem para:
O programa de exercício deve ser sempre individualizado para cada fibromialgico. Ele varia dependendo da sua condição física e psicológica. Também devemos levar em consideração suas principais habilidades e preferencias por atividades físicas especificas.
Como o paciente nunca poderá deixar de pratica-las, deve ser feito com um mínimo de prazer.
Os exercícios, no início, devem ser leves, com pouca carga, progressivos e em pequena quantidade, mas fielmente realizados diariamente. A progressão deve obedecer a uma sequência programada.
Os movimentos não devem ser extenuantes. Deve-se alertar o doente que pode sentir um agravamento da intensidade das suas dores em curtos períodos. Os primeiros dois meses de atividade são os mais críticos, mas as dores regridem.
Como já dito anteriormente, o ciclo de dor musculoesquelética gerada por imobilidade, só poderá ser quebrado se exercitando. Isso deve estar bem claro, caso contrário será um forte fator desmotivador para nosso paciente.
Antes do início da prática de exercícios, o então paciente deve ser bem avaliado. Suas compensações mecânicas geradas para a criação de uma postura antálgica devem ser eliminadas através de:
O fisioterapeuta pode aplicar qualquer técnica para atingir esse alinhamento corporal. Quanto menos alterações posturais nosso paciente fibromiálgico tiver, menos chance de dores mecânicas se sobreporem a seu quadro.
Logo, é nesta fase que eliminamos as dores mecânicas que com certeza já estarão presentes nesse corpo já tão sofrido. Esta fase, já deve ser realizada junto ao início dos exercícios físicos de fortalecimento, conforme já visto de quantidade moderada e com pouca carga através do:
Quem deve escolher sua modalidade predileta de atividade física é o paciente. Lembrem-se que deve ser feito através de uma reeducação de hábitos, portanto obrigatoriamente deve ser uma atividade que o agrade.
Esses exercícios podem começar a serem feitos 3 vezes por semana, em sessões de treinos que sejam inicialmente:
Não queremos fadigar grupos musculares específicos. Portanto, não podemos trabalhar em uma única aula somente força de núcleo, ou por exemplo, membros inferiores. Em todas as aulas o trabalho deve ser do corpo como um todo, sem sobrecarga de nenhum grupo muscular.
Uma boa alternativa para começarmos a despertar esse corpo da inatividade seria o trabalho de mobilidade articular.
Também sugiro que nessa fase inicial sua aula dure meia hora e usemos a meia hora restante para alivio das dores mecânicas. Esse alívio é para dores mecânicas geradas durante a prática da atividade física. Só faremos isso no caso especial da fibromialgia.
Seria mais ou menos, meia hora de Pilates e meia hora de fisioterapia. O que propus nada tem a ver com o famoso relaxamento feito em nosso país ao final das aulas de Pilates. Todos sabem que sou contra essa prática.
Este é um aluno com uma patologia específica, e que, portanto, precisa de um trabalho mais delicado e minucioso. Desta forma, meia hora de Pilates e meia hora de fisioterapia (não relaxamento) estaria bem indicado para o caso. Pelo menos esse é o caso a princípio.
Nessa fase o paciente também deve começar suas atividades aeróbicas. Vimos no estudo citado anteriormente que o aeróbico será o que mais lhe traz benefícios. No início ele pode tornar-se extremamente extenuante, e por vezes aumentar a dor. O paciente precisa de muita disciplina para perseverar e melhorar.
Esse exercício aeróbico deve ser iniciado, no mínimo três vezes por semana. A modalidade também deve ser eleita pelo paciente. Alguns exemplos são:
Observem que nesse momento, nosso paciente terá 6 sessões semanais de treino, com somente um dia de descanso semanal.
Será de vital importância a presença do educador físico. Ele também realizará sua avaliação especifica, traçando suas metas, objetivos e condutas, e principalmente, regulando a intensidade do treino. Tudo isso é feito com base na avaliação, de forma a não extenuar o doente.
Não devemos esquecer, que neste momento o objetivo é propositarmos a quebra do quadro álgico. Queremos impedir que o aluno desista do programa geral de recuperação.
Esses treinos de Pilates-fisioterapia poderão ser redimensionados conforme a dor de nosso paciente. O importante é nunca permitir que ele vá embora de nosso serviço sem um trabalho de força ou mobilidade (qualquer trabalho de movimento ativo). O trabalho deve ter no mínimo 20 minutos.
A cada nova semana, tentaremos em nosso programa de reabilitação inverter essa matemática, da seguinte maneira:
Fique preparado para recaídas! Encontraremos várias delas no percurso. Mas ao final de oito semanas, nosso paciente estará muito próximo de se tornar um aluno de Pilates.
O educador físico e o fisioterapeuta discutirão a cada semana, ou até mesmo a cada novo dia, quais são os parâmetros de cansaço e motivação do doente em questão. Nesse caso o fisioterapeuta ouvirá e seguirá as orientações do educador físico.
O educador físico é, afinal, o melhor profissional para traçar metas de condicionamento físico. Como por exemplo:
E lembre-se, a atividade aeróbica é a mais importante no alivio da dor. Durante esse período do treinamento o objetivo é condicionar aerobicamente o paciente, aumentando a sua resistência.
Com um condicionamento melhor, o fibromiálgico terá melhora em:
Além de realizar os exercícios de força melhor, ele também consegue fazer suas atividades de vida diária. Depois dessa oitava semana, o fisioterapeuta terá como seu principal objetivo realizar uma espécie de desmame fisioterápico em seu paciente.
A cada nova sessão realizaremos mais exercícios de força, flexibilidade e mobilidade, com um número menor de manipulações de terapia manual.
Devo aqui deixar bem claro, que a fisioterapia a que me refiro nada tem a ver com a eletroterapia. Esse tipo de tratamento só traz um alivio momentâneo da dor (papel este já exercido pelos fármacos). Ele não fornece a melhora mecânica de seus gestos, coordenação, e correção postural.
E por fim, no final de doze semanas, nosso paciente deverá ser um aluno de Pilates. Aqui proponho uma mudança em seu programa de treinamento, da seguinte forma:
O mais importante para os profissionais que assumirão o caso é não se desmotivarem diante das recaídas de dor ou quadros de depressão do doente. Devemos quebrar esse ciclo de retroalimentação devido à falta de neurotransmissores ligados ao prazer. Para isso, temos que estar atentos a essas recaídas e sabermos que farão parte de nosso trajeto.
O intestino do fibromialgico funcionar bem é de vital importância para a melhora do quadro e explicarei o porquê. Do bom funcionamento intestinal depende a saúde de nosso cérebro.
Parece loucura, mas o intestino tem mais neurônios que a medula espinhal – cerca de 100 milhões e perde apenas para o cérebro em número de neurônios.
O intestino fabrica mais serotonina que o cérebro. Isso é real e cientifico, precisamente 95% da serotonina é fabricada e armazenada no intestino.
A serotonina é um neurotransmissor, uma substância química fabricada pelos neurônios. Ela possui papel vital na transmissão e processamento das informações e estímulos sensoriais através dos neurônios.
O equilíbrio da serotonina determina, o fundo emocional de nossos pensamentos. Logo, diante de um mesmo pensamento, se a serotonina estiver em equilíbrio, ele pode ser interpretado como alegre, triste, engraçada, neutra, relaxante ou assustador.
O intestino também fabrica e utiliza mais de 30 neurotransmissores. Essas são substâncias envolvidas na transmissão e processamento das informações pelos neurônios. Informações essas do intestino e do cérebro. Todos esses neurônios e neurotransmissores são necessários para uma boa digestão.
O processo de digestão envolve, entre outras coisas, o monitoramento da:
E todo esse processo é efetuado sem a ajuda do cérebro.
Ao mesmo tempo, esses mesmos neurônios e neurotransmissores, em conjunto com os do cérebro, fazem parte da rede neural responsável pela conexão entre o bem-estar emocional e o bem-estar físico. Ou vice-versa
Sugiro a vocês profissionais do movimento a leitura do livro Intestino nosso segundo Cérebro. Para que consigamos entender a importância real do bom funcionamento da nossa eliminação de dejetos para o controle das dores musculoesqueleticas.
Caso nosso doente fibromialgico possua um mau funcionamento intestinal, deveremos incluir em seu tratamento um profissional que será de extrema importância para a melhora do quadro geral, o nutricionista. Ele será o responsável pelo reequilíbrio da flora intestinal possibilitando assim, a produção dos tão importantes neurotransmissores.
Os medicamentos são utilizados com base nos sintomas e ajudam a reduzir a dor, a melhorar o sono, a fadiga, o cansaço, a ansiedade e a depressão. São usados vários tipos de fármacos no tratamento da fibromialgia, nomeadamente, analgésicos, relaxantes musculares e antidepressivos.
Hoje em dia, existem fármacos antidepressivos que atuam nesses neurotransmissores responsáveis pelas reações exacerbadas geradas através do Sistema Nervoso Central.
Percebam a complexidade da fibromialgia e a necessidade de uma equipe multidisciplinar que se converse durante todo processo de reabilitação do doente, da necessidade do doente entender essa complexidade e estar disposto a se submeter a mudanças de hábitos que podem alterar toda sua rotina.
E por fim, a nossa importância como profissionais do movimento para a melhora da qualidade de vida do indivíduo portador de fibromialgia.
Bibliografia
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28041761
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24559767
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19514645
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